domingo, 23 de dezembro de 2012

agora


cansei de esconder
cansei de falar
quem sabe a beleza do dia
não faz eu esquecer
não faz a dor sumir
e o coração amar de novo

sábado, 24 de novembro de 2012

VII

Eu deixarei que se vão os sonhos mais mirabolantes.
Deixarei que me deixem só.
Porque já exausta de tanto sofrer, não durmo mais.
Eu deixarei esse mundo das fantasias.
O mundo dos poetas
               das fadas
               dos finais felizes
               dos sonhadores...

Deixarei a lembrança da voz de meus amantes
Deixarei a saudade e o suor de minhas noites de insônia
Porque assim sossegarei meu coração já farto do silêncio dos amores

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Reza

Que meus sonhos não morram assim.
Que meus sonhos não morram dentro de mim.
Que meus sonhos não morram antes de mim.
Que meus sonhos não morram jamais.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Sem fim


Pedi a ela que viesse até minha casa. "Achei que estivesse ficando louca, Ana.". Ela estava sentada na poltrona de minha casa, completamente a vontade. "Claro que não, e estou falando sério", ela me repreendeu. Suspirei e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa pude ouvir: "Já comprei a passagem". De repente, em minha cabeça um turbilhão de pensamentos começaram a surgir. Uma vontade louca de pular no pescoço da Ana, de amarrá-la ali mesmo e não deixar que se vá. "Mas Ana, você só pode estar louca mesmo - Eu estou aqui com você.". "Não, Lu, você não entende. É horrível o que eu sinto, quer dizer, dessa maneira". "Não, Ana. Pelo contrário, isso que você sente agora eu também já senti e não é horrível. É lindo, Ana. Super lindo."
Confesso que eu gosto da palavra ''super'', dá uma ideia maior das coisas, uma intensidade mais forte, me parece.
Foi quando percebi que seus olhos começaram a lacrimejar. Baixei os olhos e voltei a falar: "Olha, Ana, você esta agindo feito uma criança. Vai lá e conta pra ele como tu te sente, de verdade. Vai que ele também está se sentindo assim e com medo de te procurar...

domingo, 21 de outubro de 2012

Renascer


Quanta coisa muda em pouco tempo. Quanto pouco tempo pra muita mudança. Quantas lágrimas já derramadas, quantas dores já sentidas, quantas partidas sem despedidas?
Muita coisa a gente não espera que vá mudar. Muita coisa a gente não crê quando muda. Muita gente que hoje a gente nem fala mais. Muita gente que nem olha pra gente. Muita gente diferente. Muita diferença em muita gente. Muito pensamento diferente. Muitas cores diferentes, muitos sorrisos tortos, muitas segundas intenções, muita coisa, muita, muito... E a gente se surpreende com cada mudança. A gente se surpreende com a brevidade que a vida atribui a cada pessoa, a cada espaço na vida da gente.  E a gente renasce a cada dia, a gente renasce a cada amanhecer, a cada sorriso... A gente amanhece por dentro, também, a gente se renova...

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Metamorfose perdida

Era um coelho. Era pequeno e fofinho. Era como uma criança ao nascer, era ingênuo, era puro. Depois era um urso, já grande, distribuindo abraços e carinhos. Depois transformara-se em algo que eu não sabia o que era e que até agora não sei o nome. Nunca tinha visto ou sentido aquilo antes. Nunca conheci nada igual - era algo que superava qualquer coisa. Era algo mais sutil, mais delicado, mais carinhoso. Tudo ficava muito mais bonito, mais admirável. Até que tudo evaporou. Até que ele sumiu. Até que nunca mais voltou. 
E até hoje eu espero. Espero que retorne o mesmo de sempre, aquele que veio depois do urso, aquele maravilhoso desconhecido. Espero em meio às recordações já tão distantes, já tão surreais...Espero ainda de braços abertos, mesmo depois de toda dor. Ainda espero, pois minha lembrança me faz.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

na noite

E foi naquele momento,
Quando as luzes se apagaram,
Quando a música cessou
E sua respiração acelerou
Que tive a coragem de dizer que te amo.

domingo, 16 de setembro de 2012


Quem era ele?
Só porque ria sozinho nas ruas arborizadas. Só porque andava assoviando.
Quem era ele?
Ora, como hei de saber. Talvez nem ele saiba.
Será ele uma história sem fim, uma música que sempre se repete?
Será ele como a dança, que nos leva sutilmente junto à música?
Será ele mágico, artista, trapezista, desenhista? Será ele professor? Será pai? Quem é?
Ele era um livro. Um livro de poemas. Um livro de páginas em branco. Um livro sem capa, sem folhas.
Ele era apreciador de boas músicas, de longas viagens, de filmes, sobretudo de histórias. Não fazia apenas a sua, mas a história de muita gente. Criava personagens que surgiam no dia seguinte. Mas quem era esse homem? Mago, feiticeiro?
"Traz ele pra curar meu filho!"
Não, ele não é curandeiro. Me parece que tem a alma muito grande, só isso. Todos tinham medo de falar com ele, mas nunca deixavam de o cumprimentar. Crianças passavam correndo, jogando bola, mas baixavam a cabeça em sinal de respeito.
- Mas ele não é maluco, meu senhor? Esse homem é maluco!
- Não, minha senhora, este homem é a representação de outros mundos. Esse homem não é gente!
- Oh, não é homem! Não é gente como a gente! Mas o que será essa criatura, meu senhor? O quê? Será que está a procura de alguém? Será que está com fome? Não quer beber água?
- Dizem que ele tem uma casa no meio do mato. Mas ninguém nunca a viu, parece que some quando ele entra nela, vira luz!
- Cruzes! Esse homem é feiticeiro, estou dizendo!
- Disseram-me que ele fala com os animais.
O homem passava lentamente. Sorridente homem que desperta curiosidade de todos. Ele pisca várias vezes, sem deixar de sorrir. Passantes o cumprimentam: "Buenos dias, Zé". O chamavam de Zé, não sabiam o nome da criatura. E ele apenas assentia. Nunca ouviram sua voz, apenas seus escritos. Uma senhora encontrou um bilhete no banco que sempre senta-se todas as manhãs: "Que a magia dos dias lhe traga a esperança necessária para que continues a vida em outro espaço.''. No dia seguinte essa senhora faleceu.

Ainda querem saber quem é este homem. Ainda estão a procura de respostas.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Meu Velho, a saudade chegou.


Hoje, 7 de setembro de 2012,  último desfile como integrante de uma família a qual pertenço há 6 anos. De uma família de sonhadores, de gente forte. Uma família de amigos.

Agora parece tudo tão estranho, tudo tão novo. Agora são sentimentos diferentes, agora vivemos um ano diferente. O último. O último desfile. O terceiro ano. O terceirão do centenário.
Gosto dessa sensação estranha que me aperta o peito e traz uma certa aflição, um certo receio e ansiedade também. Gosto dessas sensações estranhas que me fazem suspirar e muitas vezes chorar. A saudade antecipada das coisas é, talvez, aquilo que mais me perturba. Aquele choro que a gente segura pra não desabar a qualquer momento - é quando a gente chora por dentro. Quando a saudade vem à tona. Quando as lembranças tão distantes reaparecem na nossa memória. Quando as músicas que ouvimos nos levam a um lugar de muito tempo atrás, nos levam ao nosso passado.

É quando temos que começar a escrever nossas biografias pra revista do colégio; é quando temos que enviar nossas fotos de criança; quando temos que tirar nossas fotos para os convites, é quando a turma se une - é quanto tudo começa a fazer sentido, é quando a gente nota que está quase no fim. Setembro já chegou e logo a nossa formatura também chegará. A sensação de que tudo vai terminar de repente, é o que mais assusta. A sensação de que aquela rotina no Colégio Militar de Porto Alegre acabará numa simples virada de ano; num simples fim de ano letivo. Fim esse que ora queremos que chegue depressa, ora que nunca chegue. Fim que na verdade é apenas um começo para outra história, para outras pessoas, para novas saudades antecipadas.

Há cem anos que as arcadas do Velho Casarão guardam lágrimas e sorrisos. Cem anos de saudades.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

domingo, 26 de agosto de 2012

Hoje e amanhã coloridos


Agora queria azul, pintava o céu. As cores formavam sempre algo inesperado ao final: uma girafa, desta vez. Tinha desenhado uma girafa - pescoço grande, amarelada com pitinhas marrons e sempre próxima a alguma árvore. Era engraçada essa noção de mundo, essa noção de uma vida que não conhecemos direito, apenas por outros, pela televisão, por livros, por contos... pela nossa imaginação. "Girafa come folha, né?"; "Sim, filha, elas comem.". Digo engraçada essa noção de mundo, pois ela tem apenas alguns anos. Tem apenas cinco. O mundo ao nosso redor é sempre bem maior do que imaginamos. Sempre há algo novo a ser descoberto e as crianças fazem isso muito bem.
Já era tarde e minha pequena bocejava, já estava cansada de tanto brincar. Gosto quando me pede pra que eu faça o leitinho quentinho antes de dormir. Gosto quando ela me acorda no meio da noite pra dizer que teve um pesadelo e que quer dormir comigo. Tenho medo que o tempo passe depressa. Tenho medo de perder pra sempre essa fase tão ingênua e sincera, essa fase tão bonita - ser criança. Os rabiscos ficarão pra sempre em minha memória, os desenhos... Os traços coloridos em meus livros, a tentativa de escrever o próprio nome nos meus papéis, nos meus trabalhos. Tudo isso ficará pra sempre na lembrança, pra sempre na saudade.

Da vez que me apaixonei


Eu não tinha muitas certezas. Na verdade minha cabeça estava confusa. Meus pensamentos já estavam se misturando e meu corpo se arrepiava sempre que lembrava dos momentos bons que passei. Recorri a meus travesseiros, com a esperança de que aquela sensação desaparecesse assim que eu acordasse no dia seguinte - mas isso nunca acontecia. Pra falar a verdade, a cada amanhecer, parecia que algo dentro de mim estava nascendo. Algo estava ficando cada vez maior e mais bonito. Foi numa tarde, uma tarde sem novidade alguma, uma tarde qualquer. Foi numa tarde em que tudo fez sentido. Quando nossas bocas se tocaram e o arrepio tomou conta de meu corpo inteiro. Aqueles olhos um tanto sonolentos diziam que me amavam e foi ai que tudo fez sentido. Foi quando os sorrisos começaram a aparecer constantemente em minha face, vinham sem motivo...
Agora eu tinha algumas certezas e muito amor. Agora minha cabeça estava se ajeitando, meus pensamentos não me incomodavam tanto. Dormir já não era um problema, os sonhos faziam parte da minha realidade... Então recorria a Vinícius que sempre me dizia: "Que não seja imortal, posto que é chama; Mas que seja infinito enquanto dure"

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

VI

Sinto que esse novo tempo demora a passar. Sinto que novas brisas chegarão, mas elas demoram tanto. Tentei estudar geografia em busca de alguma resposta, mas nada. Ouvir músicas animadas me deixam cada vez mais pra baixo e isso é contraditório demais. Tentei dormir cedo, tentei fazer com que a felicidade chegasse cada vez mais rápido. Chegasse por qualquer meio, através do sonho ou pelos raios da manhã seguinte, mas que chegasse. Eu inventava histórias onde a protagonista quem era? Eu, é claro. Muitas vezes não apareço como figura das histórias que crio, mas apareço sofrendo com os acontecimentos ruins, cantando pelos alegres... Como o leitor de um livro, talvez. Como o leitor de um livro deveria ser. A realidade das coisas muitas vezes me parece tão estranha, tão feroz, tão ruim. A realidade supera todos os sonhos, pois nunca sonhamos uma realidade. Talvez fadas, talvez personagens de contos de fadas sonhem com a realidade, afinal eles vivem em um sonho. Um sonho onde o final é sempre lindo, cheio de verde e amor.

domingo, 12 de agosto de 2012

Feliz dia dos pais, feliz todo dia.


"Pra que digam quando eu passe: saiu igualzito ao pai."

               Queria dizer que cresci te ouvindo cantar Engenheiros do Hawaii, músicas gauchescas, Roupa Nova... Queria dizer que cresci ouvindo tuas histórias de infância, histórias da tua época. Cresci tendo em mim um pouco de ti, um pouco de tuas manias, e ainda as tenho. Durante todo esse tempo, pai, quase dezoito anos, te digo que enriqueci. Enriqueci de maneira intelectual, enriqueci com teus ensinamentos, com teus conselhos. Em verdade, minha maior riqueza é te ter em minha vida.
És o melhor dos melhores, o melhor dos amigos. Sempre ao meu lado em todas as horas, apoiando-me quando preciso, dando-me forças nos momentos difíceis. Isto é ser pai: ser criança outra vez, ser adolescente novamente e amadurecer com a gente. Isto é ser pai, isto é ser amigo, isto é o que você é.
Sei que o tempo é uma caixinha de surpresas e temo que não saibas que meu sentimento por ti não se mede, é imenso. Temo que eu ainda não tenha conseguido demonstrar meu carinho e admiração por ti. Tu és meu exemplo, pai, tu és meu herói.
               Há pessoas que nos encantam, e para mim tu é uma destas pessoas. Sei que ainda hei de aprender muito contigo, pai. Ainda vamos dar boas risadas juntos, ainda vai haver muita história para ser contada... Poderia ficar aqui, escrevendo, escrevendo, falando de ti, de nós, mas palavras me faltariam. Ainda procuro palavras para agradecer-te.

Feliz teu dia, pai! Feliz todos os dias!

Te amo.

sábado, 11 de agosto de 2012

Não pude ver seu rosto

Se eu soubesse já tinha acordado há muito tempo. Minhas pernas dormentes já não querem se mexer. Meus olhos não querem se abrir. Eu viajando em mil pensamentos, sonhei que voava. Caminhei entre jardins belíssimos e senti o cheiro de cada bela flor. Uma mão pousava sobre meu ombro e eu não sabia de quem era. Segui em frente, aquilo não importava. A paisagem era simplesmente linda e logo eu estava em uma praia deserta. Aquela mão outra vez retornou, mas desta vez pegou na minha e me acompanhou até o mar. Meus olhos teimosos não encontravam os olhos do ser ao qual pertencia aquela mão. Eu me esforçava por falar algo, mas nada saia - apenas respirações sutis em meio aquela imensidão azul. Os pássaros voavam na direção sul. Uma borboleta passou por ali e notei que estava perdida. Alguns flashes, muita luz e agora me movo lentamente: Maldita hora em que os sonhos desaparecem! Maldita hora que o despertador tem que tocar!

sábado, 4 de agosto de 2012

Início de uma história com final feliz

Ela me pareceu feliz. Sentou-se ao meu lado falando de sua casa nova e suspirava a cada frase. Seu sorriso exalava felicidade, e suas mãos estavam geladas, como sempre. Ofereci um chá, ela recusou, estava muito eufórica. Contou-me das janelas, o quão lindas eram. "As janelas, Lu?" Sim, as janelas dão um ar de campo à casa, um ar de liberdade. Eu ria ouvindo as coisas que ela me dizia, ria ouvindo seus sonhos, seus desejos, ria ouvindo alguma história sobre cada peça de sua casa nova - cada uma tinha uma história e isso era o mais engraçado. Ela estava realmente feliz: agora era casada, tinha uma casa, esperava um filho (e quem sabe não eram dois, ou até três ali naquela barriguinha que logo, logo crescerá...).

domingo, 29 de julho de 2012

Com a alma transbordando

Descobri o que estava segurando durante todo esse tempo. Durante esses milhões de minutos, segundos que passaram tão depressa. Descobri que todo o tempo eu sustentava uma esperança incrível. Durante todo esse tempo agarrei-me ao amor com todas as forças que me foram possíveis - e ainda seguro. Durante esse tempo, não pensei em mais nada a não ser protegê-lo. Não pensei em nada que fosse magoá-lo. E a gente descobre, no fim de tudo, que só dá certo quando os dois lados se doam. Quando os dois lados sustentam. Quando os dois lados tem confiança plena. Quando os dois lados se amam igualmente. Descobri o que estava segurando sozinha, o que hoje anda pesado demais. Descobri que estava enganada. Descobri que a imaginação deixa o peso mais leve, mas quando voltamos a realidade, nossos braços já estão cansados, mas nossa alma não desiste. Não desiste simplesmente pois ela tem esperança - ela ergue a nossa esperança, a nossa fé. Sei que ainda não descobri tudo, ainda há muito. Muita coisa capaz de mudar, muita coisa capaz de se transformar em algo mais. Acredito ainda que as coisas possam se transformar em algo bom. Ainda acredito no que minha alma diz. Creio nela, pois ela crê no amor, coisa que ultimamente não tenho levado muita fé. Afinal, descobri muita coisa, muita sobre carga das quais ando me desfazendo.

domingo, 22 de julho de 2012

Carta

>Não é fácil dizer nada. Enquanto você cuida das crianças correndo no pátio eu ajudo a Lê a cavalgar... Enquanto você põe as crianças pra dormir, muitas vezes eu já estou dormindo.  Eu só queria dizer que sinto falta de nós. Falta do que éramos antes do sítio, antes do casamento, antes das crianças... Não que eu não goste do hoje. Faria tudo de novo se possível e quero mais filhos. Quero mais meninos, mais meninas e acho que precisaremos de mais cavalos... Eles são um tipo de terapia, não acha? Inclusive pra nós. Quando estás chateada comigo, sei que recorre a eles. Sei que chora entre os travesseiros dos meninos antes que as pazes sejam feitas. Não é fácil de dizer nada. Não é fácil de descrever nada, nossa família é linda. Nosso amor é enorme - meu amor por ti a cada dia só cresce. E acordar ao teu lado é algo indescritível. Ver teu sorriso a cada manhã, teus olhos ainda sonhando e tua mente já preocupada com as crianças. Nos vejo daqui a alguns anos, velhinhos, recebendo a visita de nossos netos que amarão e cuidarão do sítio como nós e seus pais. E nossos filhos, já adultos, com saudades da infância, do cheiro bom da tua comida caseira.

Escrevo essa carta para dizer-te que temo que não saiba de tudo isso que sinto. Temo que não tenha conseguido te passar toda essa minha paixão pelas coisas - pelas nossas coisas. Pelo que somos hoje e pelo que ainda seremos. Temo sobretudo que descubra isso tarde demais. Ah, meu amor, vou sentir falta de tudo isso. De tudo que construímos juntos, de todos os momentos que passamos, do nascimento de cada um de nossos pimpolhos. Sentirei falta...
Sabes que para mim, escrever uma carta não é fácil. Para mim, escrever qualquer coisa exige uma concentração a qual não possuo, tu sabes. Mas esta é diferente. Não precisei de muito para escrever: esta carta sou eu, esta carta são meus sentimentos, esta carta é pra você.

Feliz 20 anos de casamento. Feliz aniversário pra nós. Feliz ainda muitos anos que virão.

Te amo pra sempre.

domingo, 8 de julho de 2012

Ontem as palavras me seguiam...

Poderias não ter perdido isso tudo. Ontem estava sentada pensando em como as coisas aconteceram, em como poderiam ser, em quanta coisa imaginamos que não vai acontecer. Ontem, relembrei os antigos bons tempos que hoje não são tão bons assim. Hoje, pensar no passado dói na alma. A alma que tanto se doou, que tanto amou. Pensei, então, que tu poderias ter feito tudo diferente e hoje, seria tudo diferente. Ontem, pensei em como as palavras são poderosas, e nossas mentes, mais ainda. Nossas mentes podem distorcer essas palavras, interpretá-las de um modo diferente do demonstrado.

Quanta coisa ainda poderia ter acontecido, se essas malditas palavras não fossem ditas, ou se alguma delas fosse omitida. Tudo muda pelas palavras. Tudo muda pelo ato. Tudo muda pela história. Tudo muda pela mentira. As palavras embaralhadas que tu me disseste, não sei se hoje posso ainda acreditar. Queria muito que sim. Queria muito levar suas palavras adiante e mostrar o quão belas e verdadeiras eram. Hoje tudo não passa de palavras ditas ao vento, palavras falsas, talvez. Hoje tudo não passa de um conto de fadas inventado por nós. Um conto de fadas onde o final não foi muito feliz - foi triste.
Poderias não ter perdido tudo, afinal eu ainda tinha muita coisa a lhe oferecer. Ainda tinha muito amor, carinho, admiração. Ainda tinha muita fé em ti. Hoje não sei o que te oferecer, as coisas se perderam. As palavras sumiram.

Tempo

Quebrar os relógios talvez resolva nosso problema. O tempo só deveria valer para eles.

sábado, 7 de julho de 2012

Último minuto

Era o começo de algo que ela não sabia o que seria. Saiu correndo em direção ao ônibus antes que ele partisse sem ela. Correu para não chegar mais atrasada do que estava. A chuva dificultava ainda mais as coisas, mas ela não desistia. Não desistia pois sabia que talvez estivesse jogando toda sua vida no lixo. Pois afinal, seu futuro estava partindo. Seu futuro estava indo embora de avião para outro país. Não sabe dizer precisamente a que horas era a partida, pois quando ele lhe disse ela não deu muita importância, estava virada em lágrimas e desesperos. As pessoas na rua lhe olhavam de uma forma meio estranha, afinal, ela estava mesmo estranha. Ela chorava na chuva e corria. Suas lágrimas se confundiam com os pingos de chuva e já nem ela sabia se estava realmente chorando ou era apenas a angústia de que as horas lhe pregassem uma peça. Será que o avião já partira? Será que ele ainda hesita em partir? E a pergunta que mais lhe corria à cabeça: por que cargas d'água deixei ele escapar de meus braços? Entrou completamente fora de si no aeroporto e, ao vê-lo não conseguiu se mover, suas pernas cederam e ela caiu em um choro desesperador. Ele, que já estava pronto para partir, parecia esperar alguma coisa e, ao vê-la só faltou um sorriso brotar em seu rosto. Ao vê-la chorando, foi correndo a seu encontro, a envolveu em seus braços: ''Eu só estava esperando você voltar atrás, mas prometo que nunca mais vou ser orgulhoso. Te amo. Obrigado por lutar por mim.".

Eterna nostalgia

A chuva incessante lhe trazia uma nostalgia enorme. A lembrança dos campos de sua juventude, dos cavalos que muito cuidou, das corridas por entre aquele tapete verde que cobria toda extensão do sítio. Realmente foram bons tempos. Bons tempos em que não era preciso se preocupar com o que o vizinho iria pensar se fizesse muito barulho, porque afinal, ele estava a mais ou menos um quilômetro de distância. Tempos em que pessoas eram menos individualistas, em que ficar até mais tarde na rua não era problema. 
Tinham todo sitio para si, digo na terceira pessoa do plural, pois ela não era só naquela imensidão. Tinha irmãos e irmãs, tinha uma família grande e linda. Gostava da sensação de acordar pela manhã e sentir o cheiro da natureza, de ter a beleza toda do mundo em um só lugar, bem ali, a sua janela.
Hoje, a vista de seu quarto não passava de um aglomerado de prédios enormes, de ruas sem fim, de um enfileirado de carros apressados....

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Diálogo interrompido

- Queria te dizer, que isso tudo é muito novo pra mim. Nunca me senti assim antes....
- Chega dessa bobagem, menina, do que você está falando?
- Nada, era sobre o tempo.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Cartas, dedicatórias....

Se percebe o quanto dói escrever, depois que se dedica um texto a alguém. Dedicar alguma coisa, qualquer coisa, é ato que implica grande responsabilidade. Responsabilidade no sentido de que aquilo, dali a algum tempo, ou pouquíssimo tempo pode te trazer uma tristeza danada. Na verdade, as dedicatórias todas têm um pingo de tristeza. Fazê-las não é tão simples: exige concentração do escritor que se exige na delicadeza ao expor os sentimentos. Digo que dói, pois a lembrança que se tem torna-se uma lembrança também escrita.

 E, de repente, a gente lembra das coisas que escreveu e estremece com cada expressão utilizada - estremece com a verdade e a sinceridade das palavras. Sempre achei que palavras escritas eram mais bonitas que palavras ditas, e continuo achando. O fato das dedicatórias ''machucarem'' não muda meu sentimento por elas, pelo contrário. O fato de chorar escrevendo algo, ou até mesmo lendo é a coisa mais pura, mais bonita que pode acontecer. Queria muito que alguém um dia chorasse por algo que escrevi. Chorasse por achar muito bonito, ou porque aquele texto remete alguma coisa, traz lembranças de seu passado... Ou até mesmo chorar lembrando do momento em que aquilo lhe foi dado. Chorar pela lembrança, chorar querendo que o tempo retorne.

E se percebe, sobretudo, essa dor quando se toma a infeliz decisão de datar as coisas. "Sim, o mais triste das dedicatórias são as datas." já escreveu Mário Quintana, certa vez, ao sentir essa mesma dor que só compartilha quem escreve. Às vezes me pego lembrando de coisas que fiz, que já escrevi, e lembro dos momentos, do fato que me fez escrever, as inspirações que tive, muitas vezes tristes de um futuro incerto ou de uma saudade antecipada e isso é o que mais entristece: a lembrança, as datas. Assim como a saudade pode ser o mal de quem ama, as datas são o "mal'' de quem escreve.

sábado, 16 de junho de 2012

Lembrete

Não esquece do remédio;
Não esquece a porta da geladeira aberta;
Não esquece do outro remédio;
Me liga quando sair (pra eu saber se tu está bem);
Não esquece que te amo.

Ass.: eu.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

tão(só)mente

Tão somente eu
Tão somente meu
Tão somente teu
Tão somente nosso
Tão somente...
Tão somente, gente
Tão somente só
Tão somente que dá dó
Tão somente mente
Tão somente isso
Tão somente aquilo
Tão somente nós
Chega de somente
Chega de mente
Chega de tão
Tão somente chega.

(algo que saiu do nada da minha cabeça)

sábado, 9 de junho de 2012

Antes...

Como se antes as palavras não valessem;
O corpo não sentisse nada;
Os olhos também, já não enxergassem nada,
Só a pureza das coisas.

Como se antes não existisse o mal.
Os dedos já não congelassem,
As bocas já não se tocassem,
E o arrepio já não atingisse o corpo inteiro.

Como se antes tudo fosse um sonho.
Como se antes o vento fosse só o vento,
A chama fosse só a chama
E o amor não existisse.

Silêncios

Há silêncios que aborrecem.
Há silêncios que confortam.
Há silêncios barulhentos, que incomodam.
Há o silêncio esperado,
O desesperado,
E aquele silêncio irritante
Que surge quando se quer o barulho.

Há silêncios falantes
E os que simplesmente escutam.
Há silêncios mal recebidos,
Mal interpretados,
Desconfortantes,
Não compreendidos.

Há palavras substituídas por silêncio.
Há gestos substituídos por silêncio.
Há silêncio no lugar de tantos...

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Que se possa sonhar, isso é que conta. CFA


Sonhar faz com que a gente se apegue mais às pessoas. Pelo menos no meu caso. O sonho é uma coisa tão louca, tão diferente de qualquer coisa. É tão bonito. O sonho, digo também o ato de sonhar, é uma coisa bonita. É a surrealidade se mostrando de uma maneira completamente mágica. O sonho é a coisa mais bonita pertencente ao ser humano. E se torna mais bonito, sobretudo porque é algo involuntário, simplesmente acontece, sem se querer ou deixar de querer.
Independente de o sonho ser algo bom ou ruim, parece que ele nos leva mais pra perto da pessoa com quem sonhamos. No dia seguinte, acordo querendo saber da pessoa, como ela está, e até com quem sonhou, pois vá que exista mesmo alguma ligação entre os sonhos e esse mundo que desconhecemos, esse mundo surreal, de outra dimensão e tenhamos verdadeiramente nos encontrado. Acredito muito nisso. Acredito muito nos sonhos.
Não me canso de dizer que o sonho é algo belo, pois é a prova de que mesmo quando se está dormindo nossa cabeça trabalha sem parar, nossos pensamentos estão a mil, e muitas vezes tudo que aconteceu em nosso dia se reflete ali de alguma maneira ou de outra. Nossos pensamentos se concretizam nos sonhos. Nossos desejos e vontades se tornam uma verdade durante os sonhos. Mas talvez seja chato viver apenas no mundo dos sonhos...

sexta-feira, 1 de junho de 2012

V

Agora ela seria feliz. Agora seria amada, depois amaria.
Agora o tempo a ajudaria, agora seria paciente.
Agora apenas deixaria as coisas correrem normalmente, ou caminharem.
Mas agora era assim: deixaria.
Deixaria que o tempo a levasse e a transformasse.
As coisas mudariam, a vida seguiria, as flores brotariam, o vento bateria à sua janela e ela não reclamaria - pois agora também ela é tempo.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A fuga

Helena dizia que iria fugir.
Dizia que estava cansada de mentiras.
Cansada de sofrer por bobagens,
Cansada de dores,
Cansada de amores
E só queria a paz.

Helena dizia que iria fugir.
Dizia que seria melhor,
Que ali não seria feliz,
E sim lá,
Onde a paz é constante,
Onde a dor não tem vez,
Onde as pessoas são boas
E guerra não existe.

Lá a comida é boa,
A cama é quente,
A roupa é passada,
O amor é pra sempre,
A dor é passado...

Helena fugiu.
Helena fugiu para casa de sua mãe.

sábado, 26 de maio de 2012

Borboleta

Imóvel, estátua colorida,
Tão bela e com tanta vida,
Cheia de mistérios e encantos
Que ninguém há de tirar.

Tantas vezes voava,
Tantas vezes brincava,
Parecia entre as flores dançar...
E dançava!

Verde, amarela ou rosada
Azul, roxa ou acinzentada
Sempre a mesma pureza.

 Com toda graça e beleza
Oh, freguesa de meu jardim!

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Tragédia

Não consigo acreditar. Não posso acreditar que tudo isso seja verdade. Mas é a vida. Ela que é assim, sempre nos pregando peças. Sempre cheia de mistérios e encantos, e encantos que - infelizmente - se desfazem.
A vida é assim, aos trancos e barrancos, assim.
A gente nasce, cresce, ama, chora, ama, ama de novo e, quando menos se espera voltamos a chorar.
A gente acredita, esse é o grande problema, esse é o erro: e se decepciona. Amar é bom demais, mas machuca e ilude.

Hoje, não sei com que força escrevo. Mesmo depois de tudo, mesmo depois de tanto chorar, de tanta dor - me despeço.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Luísa


Dançava,
Tão bela,
Lasciva,
Com a pele
Tão branca,
De faces rosadas,
Risonhas...
Dançava,
Na chuva
Com a pele
Molhada,
Tão bela,
Tão bela.

Seus cachos
Tão negros
Revoltos,
Pulavam,
Brincavam
Em seus
Ombros nus.
E os pingos,
Da chuva,
Caiam
Gelados,
Do céu,
Tão nublado
Que a noite mostrava.

Dos pingos,
Teimosos,
Fugia
Depressa,
Na dança,
Que é bela,
Mas cansa.
Suas pernas,
Já frouxas,
Tremiam
De tanto dançar.
Seus olhos,
Tão puros,
Ingênuos,
Eu juro
Nunca abandonar.

Dançava,
Tão bela,
Lasciva,
Com a pele
Tão branca,
De faces rosadas,
Risonhas...
Dançava,
Na chuva
Com a pele
Molhada...
Quem dera!
Dançar com ela!

sexta-feira, 9 de março de 2012

IV

Talvez eu conseguisse parar o tempo e ficar só ali, naquele instante. Dizer que foi mágico é clichê demais, procuro outra palavra - procuro mais. Foi bem mais que mágico, foram mágicas, foram sensações, foram carinhos, foram muitos beijos e beijos... Não sei descrever o quão boa sensação me causou. Queria agradecer-lhe: mas agradecer pelo o quê? Por ser tudo pra mim? Por ter me causado tal sensação? Não sei o que agradecer. Agora fiquei confusa. Acho que a sensação que me causou foi essa, uma tamanha confusão. Se eu faria de novo? Mas é claro, quantas vezes fosse preciso. Faria dez, mil, milhões, bilhões de vezes mais e não enjoaria. Não enjoaria e nem cansaria, simplesmente porque do amor não se cansa, do amor só se quer mais  e cada vez mais; e se quer bem, muito bem. Se eu pudesse, ficaria para sempre ali, ficaria para sempre no teu abraço.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Para o meu amor.

Olha, veja bem, meu amor. 


Queria tanto estar olhando agora nos teus olhos. Queria estar dizendo isso pessoalmente.  A chuva me eleva completamente a alma e é nesta tarde chuvosa que te escrevo. 
Eu podia te ligar agora, não podia? Podia ligar, sim, ligar e dizer tudo isso que tenho para dizer, mas escrevo. Escrevo porque é mais romântico, porque lido melhor com as palavras escritas. Esta carta tem mais de mim do que eu mesma. 
Olha, meu amor... te escrevo não só para dizer que sinto saudade, que tenho mergulhado em meus livros estudando, procurando alguma maneira de aliviar essa dor que é sentir a saudade. Te escrevo pra dizer, que volta e meia corro ao meu quarto para folhear aquele livro que você me deu; volta e meia me pego lembrando de seus gestos, suas manias... Que, desde a última vez que nos encontramos, teu cheiro está naquela minha camisa listrada.
A verdade é que te escrevo pra dizer que não consigo viver com essa saudade. Que os dias têm me sufocado a cada instante e que não consigo parar de pensar que poderia ter sido diferente. Por isso te peço desculpas, por escrito, pela carta, mas peço. Porque nem falar eu consigo mais. Poderia te ligar, sim, mas com a voz embargada de nada adiantaria.


Te escrevo agora, implorando que volte. Que volte com todo aquele amor, aquele carinho de sempre. Que volte pra mim, que nunca mais se vá, que nunca mais me deixe. Te escrevo, e só paro de te escrever agora pois essa carta não teria fim, assim como meu amor. Só paro de te escrever agora, porque as lágrimas já estão caindo na folha e sei que não vão parar tão fácil. Te amo sempre. 


Pra sempre tua, com todo amor.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

22:47 ainda não desfiz minhas malas. Na verdade nem queria fazê-las mesmo. Na verdade nem devia ter ido viajar. Não foi bom. 22:47, ontem a esta hora estava feliz, muito feliz. Falava de meus planos, meus sonhos... E tinha em mente o que iria te dizer naquela noite - Ah, passei a tarde inteira decorando frases, que eu sei que na hora não sairiam perfeitas, mas tinha em mente muito bem planejado o que te diria. As horas iam passando e minha felicidade se transformava em algo que eu não sabia bem explicar o que era. Uma exaltação, alguma coisa querendo sair de mim, uma agonia, uma dor, uma alegria... tudo ao mesmo tempo. E era tão bom... Até as 23:30. Até este horário estava tudo bem, até eu te ligar.Ouvir tua voz me faz um bem danado. Mas naquele momento parecia que as coisas estavam mudando - mas estava tudo indo tão bem! E eu já não sabia o que estava ouvindo e nem o que estava dizendo, as coisas estavam se confundindo e em pensar que eu tinha apenas te ligado pra dizer que queria te ver, que tinha muitas coisas para dizer. Tudo aquilo que antes eu estava sentindo começou a querer sair. Eu já estava ofegante e com os olhos lacrimejando. Já era meia noite. Já era tão cedo pra mim, que tinha planejado horas e horas de declarações a fazer, já era tão cedo para se decepcionar, já era tão cedo pra chorar. Desliguei. Desliguei porque já não tinha forças pra segurar o celular.

Fui à procura de algo que não sei o que era. Em minha cabeça um turbilhão de pensamentos; em mim, sentimentos misturados.  Queria chorar, mas não conseguia, queria gritar mas nem isso me saía. Eu estava paralisada internamente. E eu caminhava, caminhava não sabia pra onde. Minhas pernas me guiavam.01:08 Onde eu estou? Tentei te ligar mais uma vez. Quem sabe você não mudaria de ideia, não viria me salvar - era isso que eu queria? alguém pra me salvar, era o que eu estava procurando? E você não atendia. Minha aflição a cada passo aumentava, até que, um gramado conhecido surgiu na minha frente: era minha casa. Respirei aliviada. Entrei em passos rápidos, parecia uma fugitiva.01:57 Me deitei e o mundo parecia girar. Precisei de mais um minuto para entender tudo que havia acontecido. Uma lágrima, mais uma, e outra, e outra.... e desabei. E tudo aquilo por quê? Porque te liguei querendo te encontrar, queria expor meus sentimentos, compartilhá-los contigo.Agora, já são 23:39 e minhas malas ainda estão intactas. Vou confessar que queria muito te ligar agora, mas não tenho coragem. Agora nada mais importa, deu tudo errado, vou desfazer minhas malas antes que as lágrimas voltem a rolar.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Delírios

Fiquei dias sem ter o que dizer. Dias sem saber o que escrever. É a saudade. A saudade me enfraquece. E, ao passo que a distância aumenta, parece que cada pedaço de mim se vai.  Já não tinha mais o que pensar. As ideias já me fugiam, já não tinha inspiração - ela estava sumindo aos poucos, assim como eu mesma ia me sentindo vazia. Oca.
A felicidade me encontrava certas vezes ao receber uma mensagem tua. Por mais simples que fosse aquilo me renovava. Mas a saudade... Ah, essa nunca me deixava.
A felicidade me encontrava, também, em meus sonhos. Descobri que sonhar faz bem. Gosto de imaginar. Gosto de te imaginar, de nos imaginar. E tantas vezes me senti abraçada, tantas... E era você quem eu sentia. Será essa sintonia verdadeira, real? Será que você também pensava em mim naquele momento?

Houveram dias que eu queria que passassem depressa, para que eu pudesse sonhar contigo à noite.
Houveram noites que eu não queria que terminassem.

Fiz bem de escrever, parece que me aliviou. Tirei um peso de dentro de mim. E a saudade continua a mesma, até mais forte.
Houve noites em que eu pegava o caderninho e a caneta, e ficava horas só ouvindo a chuva cair; no papel? Nada. E as palavras que antes me perseguiam? Agora fogem. Fogem porque elas não sabem de mais nada. Somos agora incógnitas. Eu e elas. Eu e as palavras: incógnitas. Onde isso vai parar, elas me perguntavam.
Não sabia de mais nada. A única coisa que sabia era que a saudade estava, agora, me machucando como nunca. E a vontade de estar perto aumentava a cada instante.
Peguei meu caderno tantas vezes para escrever, mas não sabia o quê. A verdade é que meus sentimentos já estavam se confundindo. E eu já estava enlouquecendo - como agora.

Vou-me embora

Vou-me embora. Sair sem rumo – já tinha pensado em fazer isso. Resolvi deixar tudo para trás, até deixei amores, dores e destino. Esse vento que bate agora, parece que me assopra alguma coisa aos ouvidos: quer que eu volte. Não voltarei, sumirei. Sumi tanto que me perdi, nem eu me achei. De tão estranho sentimento e ilusão, tamanho sofrimento em mim não cabia mais. Deixei tudo. Minha casa, minhas coisas, minha vida, minha alma, meu coração lá deixei. Loucura – nada mais explica isso, nem poetas, nem eu mesmo, nem metáforas, nem nenhuma outra figura de linguagem. Loucura feliz. Feliz pelo alívio que dá, pela coragem da fuga, pela perda das coisas: pela minha perda. Não importa que me digam que é errado, que deixar as coisas pra trás não mudará nada, mas estou certa – já fiz minhas malas. Ou melhor, quer saber? Não vou levar nada. Não vou deixar pistas, não vou deixar cartas, não vou deixar lágrimas, vou deixar apenas as lembranças já que nem isso eu quero mais. Vou-me embora antes que seja tarde, antes que esses malditos ventos soprem outra vez. 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O primeiro beijo

Era estranho. Os passos ficavam cada vez mais afastados, os sons também. Aproveitamos e pulamos o muro. Esperamos. Estava ficando frio, era melhor eu ter pego um casaco como a mamãe disse, mas agora era tarde demais... “Psiu!” Acho que pensei alto demais. Atravessamos o gramado e paramos atrás de uma árvore. Naquela rua silenciosa só se ouvia respiração de meu amigo. Ninguém podia nos ver. Era tudo secreto. Muita adrenalina. Ouvimos mais vozes, nos abaixamos atrás de um arbusto, as pessoas passaram e, agora, éramos sós outra vez. Sua mão completamente gelada puxava a minha para atrás da grande árvore. Ninguém se mexia, ninguém falava nada e era, de novo, a mesma respiração rápida e fria. Comecei a tentar me esquentar, aquela camiseta de manga curta não foi uma boa ideia. Suas mãos geladas pousaram sobre meus ombros e eu, num pulo o fitei mais profundamente enquanto o via aproximar-se cada vez mais. Suas mãos deslizaram em meus braços e agora seguravam minhas mãos. Seus olhos iam se fechando lentamente e agora eu entendia o que ele queria todo esse tempo. “Saiam da rua, está ficando frio!”

domingo, 8 de janeiro de 2012

Mais um...

Hoje passou uma pessoa gritando "Pedro" na rua. Passou gritando enlouquecidamente. Devia estar querendo falar com urgência com esse tal de Pedro. Deu alguns minutos de silêncio e eu até tinha esquecido da voz dessa mulher. Fiquei pensando se conhecia algum Pedro na minha rua, não me veio ninguém a cabeça. Mas imagina quantos Pedros exitem por aí. Imagina se existisse uma rua só de Pedros. Todos iam sair de casa, colocar a cabeça pra fora da janela pra ver quem chama. Até a mulher talvez se confundisse com qual Pedro ela queria falar. Seria engraçado. Não, imagina, coitados! Morando todos em uma mesma rua, todos os Pedros. Gostei desse nome: Pedro. Achei legal o modo como se diz, Pedro. "Pedro, vem cá!", "Pedro, já está tarde, vem pra casa!", "Pedro, o almoço tá na mesa!", "Pedro, filho, Pedro, Pedro..."
Meu filho vai se chamar Pedro. Gostei. É bonito, é forte, assim como Helena. Acho Helena tão bonito, tão sensível, tão forte, tão simples, mas tão complicado ao mesmo tempo.

A mulher passou gritando de novo, não devia ter encontrado quem procurava. Ela bateu aqui em casa, querendo saber se não tinha nenhum Pedro. Minha vontade foi de dizer "Hoje, não senhora, mas venha daqui a alguns anos..."

sábado, 7 de janeiro de 2012

Palavras

Naquele momento eu poderia ter dito tudo. Poderia ter dito tantas coisas, tantas palavras bonitas. Poderia ter aliviado meu coração e ter dito tudo que eu sentia, mas não disse. Ao invés de dizer, eu escrevo. Acho que sou meio covarde, sem muita coragem e me escondo atrás das palavras.
A verdade é que elas que me buscam. Essas palavras me buscam a toda hora e me atormentam, certas vezes.
A verdade é que essas palavras não me deixam dormir a noite. E elas vêm, vêm num sussurro ao meu ouvido com uma voz que eu desconheço – pode ser a minha voz, é uma voz que vem de dentro, me parece. São vozes. São sussurros. São palavras. E elas me dizem pra continuar, pra não desistir. Me dizem pra não deixar de acreditar... Eu estremeço com a verdade existente em cada palavra, mas eu tenho medo delas. Medo. Medo de que alguém além de mim as ouça: elas me são.
Naquele momento em que minha voz saiu chamando seu nome, percebi que era tarde demais pra se arrepender, tarde demais pra perder a coragem, voltar atrás.
Talvez sejam vozes sábias – elas sabem de tudo.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Helena, filha...

O vestido era azul, azul clarinho, aquele azul... Como chamam mesmo? Azul bebê. Seu cabelo, tão pretinho, lindo, solto, algumas mechas desobedientes caindo aos ombros... e ela sorria, linda. Helena estava linda. E aquele sorriso... Não há no mundo uma só alma que não se encante pelo sorriso dela. Fiquei algum tempo a admirando. Como cresceu a minha menina; a minha Lena, minha Lê, minha Leninha já é maior que eu - maior que a mãe. Já não conto mais histórias para dormir e há alguns anos que já não grito da varanda: ''Helena, filha, sai dai...", "Lê, deixa os cavalos pastarem em paz...'' - Helena ama os cavalos. Acho que nisso ela puxou à mãe, puxou a mim. Íamos quase toda manhã soltar os cavalos no campo, dar cenoura a eles e escová-los... e quando voltava da escola, à tarde, ia galopar. Sinto saudade da minha menina, sinto saudade de ter que separar as ervilhas no prato, saudade de quando nadou sem boias no laguinho pela primeira vez... Saudade.
Hoje, Helena trocou as sapatilhas pelo salto alto, as bonecas pela maquiagem... Helena é grande. Helena é moça. Helena é mulher.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

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Fiquei por muito e muito tempo agoniada. Fiquei desesperada, na verdade. Apaguei tudo, fiquei na escuridão abraçada em meus travesseiros tentando afastar os pensamentos ruins que me vinham a todo momento. Eu queria poder te ligar, queria ouvir a sua voz dizendo ''Está tudo bem, mesmo. Vai dormir, querida. Te amo.'' Mas acho que a coragem me faltou, e o orgulho... Ah, esse é meu pior inimigo. Fiquei por uma hora virando-me de um lado a outro da cama, sem sono, preocupada, coração na mão. Foi quando fechei meus olhos e os abri novamente, meu coração parou - pelo menos eu acho que parou. Meu quarto estava claro. Meu quarto, meu quartinho, pequeno, só para mim e minhas coisinhas: estava claro. Hã? Mas como isso? Eu apaguei toda e qualquer luz que atrapalhasse meu sono que já estava demorando a vir. Foi então que me dei conta: ele estava me ligando. Ah, meu coração pulou mais uma vez e outra mais. Não hesitei um segundo sequer, logo atendi e ao ouvir a sua voz me dizendo ''Oi, meu amor. Estou bem, só um pouco cansado, mas bem. Fica bem, dorme tranquila, amanhã nos vemos. Estou com saudade...''. Não sei se depois disso fui eu mesma quem falou ou foi meu coração, mas opto pela segunda opção: "Que bom, meu amor... Que bom! Vou ficar bem. Já estou deitada, só um pouco preocupada com você, mas agora... acho que passou e é a saudade que mais dói.". Ouvi ele murmurar alguma coisa e logo após um "Te amo'' - era tudo que eu precisava.