domingo, 29 de julho de 2012

Com a alma transbordando

Descobri o que estava segurando durante todo esse tempo. Durante esses milhões de minutos, segundos que passaram tão depressa. Descobri que todo o tempo eu sustentava uma esperança incrível. Durante todo esse tempo agarrei-me ao amor com todas as forças que me foram possíveis - e ainda seguro. Durante esse tempo, não pensei em mais nada a não ser protegê-lo. Não pensei em nada que fosse magoá-lo. E a gente descobre, no fim de tudo, que só dá certo quando os dois lados se doam. Quando os dois lados sustentam. Quando os dois lados tem confiança plena. Quando os dois lados se amam igualmente. Descobri o que estava segurando sozinha, o que hoje anda pesado demais. Descobri que estava enganada. Descobri que a imaginação deixa o peso mais leve, mas quando voltamos a realidade, nossos braços já estão cansados, mas nossa alma não desiste. Não desiste simplesmente pois ela tem esperança - ela ergue a nossa esperança, a nossa fé. Sei que ainda não descobri tudo, ainda há muito. Muita coisa capaz de mudar, muita coisa capaz de se transformar em algo mais. Acredito ainda que as coisas possam se transformar em algo bom. Ainda acredito no que minha alma diz. Creio nela, pois ela crê no amor, coisa que ultimamente não tenho levado muita fé. Afinal, descobri muita coisa, muita sobre carga das quais ando me desfazendo.

domingo, 22 de julho de 2012

Carta

>Não é fácil dizer nada. Enquanto você cuida das crianças correndo no pátio eu ajudo a Lê a cavalgar... Enquanto você põe as crianças pra dormir, muitas vezes eu já estou dormindo.  Eu só queria dizer que sinto falta de nós. Falta do que éramos antes do sítio, antes do casamento, antes das crianças... Não que eu não goste do hoje. Faria tudo de novo se possível e quero mais filhos. Quero mais meninos, mais meninas e acho que precisaremos de mais cavalos... Eles são um tipo de terapia, não acha? Inclusive pra nós. Quando estás chateada comigo, sei que recorre a eles. Sei que chora entre os travesseiros dos meninos antes que as pazes sejam feitas. Não é fácil de dizer nada. Não é fácil de descrever nada, nossa família é linda. Nosso amor é enorme - meu amor por ti a cada dia só cresce. E acordar ao teu lado é algo indescritível. Ver teu sorriso a cada manhã, teus olhos ainda sonhando e tua mente já preocupada com as crianças. Nos vejo daqui a alguns anos, velhinhos, recebendo a visita de nossos netos que amarão e cuidarão do sítio como nós e seus pais. E nossos filhos, já adultos, com saudades da infância, do cheiro bom da tua comida caseira.

Escrevo essa carta para dizer-te que temo que não saiba de tudo isso que sinto. Temo que não tenha conseguido te passar toda essa minha paixão pelas coisas - pelas nossas coisas. Pelo que somos hoje e pelo que ainda seremos. Temo sobretudo que descubra isso tarde demais. Ah, meu amor, vou sentir falta de tudo isso. De tudo que construímos juntos, de todos os momentos que passamos, do nascimento de cada um de nossos pimpolhos. Sentirei falta...
Sabes que para mim, escrever uma carta não é fácil. Para mim, escrever qualquer coisa exige uma concentração a qual não possuo, tu sabes. Mas esta é diferente. Não precisei de muito para escrever: esta carta sou eu, esta carta são meus sentimentos, esta carta é pra você.

Feliz 20 anos de casamento. Feliz aniversário pra nós. Feliz ainda muitos anos que virão.

Te amo pra sempre.

domingo, 8 de julho de 2012

Ontem as palavras me seguiam...

Poderias não ter perdido isso tudo. Ontem estava sentada pensando em como as coisas aconteceram, em como poderiam ser, em quanta coisa imaginamos que não vai acontecer. Ontem, relembrei os antigos bons tempos que hoje não são tão bons assim. Hoje, pensar no passado dói na alma. A alma que tanto se doou, que tanto amou. Pensei, então, que tu poderias ter feito tudo diferente e hoje, seria tudo diferente. Ontem, pensei em como as palavras são poderosas, e nossas mentes, mais ainda. Nossas mentes podem distorcer essas palavras, interpretá-las de um modo diferente do demonstrado.

Quanta coisa ainda poderia ter acontecido, se essas malditas palavras não fossem ditas, ou se alguma delas fosse omitida. Tudo muda pelas palavras. Tudo muda pelo ato. Tudo muda pela história. Tudo muda pela mentira. As palavras embaralhadas que tu me disseste, não sei se hoje posso ainda acreditar. Queria muito que sim. Queria muito levar suas palavras adiante e mostrar o quão belas e verdadeiras eram. Hoje tudo não passa de palavras ditas ao vento, palavras falsas, talvez. Hoje tudo não passa de um conto de fadas inventado por nós. Um conto de fadas onde o final não foi muito feliz - foi triste.
Poderias não ter perdido tudo, afinal eu ainda tinha muita coisa a lhe oferecer. Ainda tinha muito amor, carinho, admiração. Ainda tinha muita fé em ti. Hoje não sei o que te oferecer, as coisas se perderam. As palavras sumiram.

Tempo

Quebrar os relógios talvez resolva nosso problema. O tempo só deveria valer para eles.

sábado, 7 de julho de 2012

Último minuto

Era o começo de algo que ela não sabia o que seria. Saiu correndo em direção ao ônibus antes que ele partisse sem ela. Correu para não chegar mais atrasada do que estava. A chuva dificultava ainda mais as coisas, mas ela não desistia. Não desistia pois sabia que talvez estivesse jogando toda sua vida no lixo. Pois afinal, seu futuro estava partindo. Seu futuro estava indo embora de avião para outro país. Não sabe dizer precisamente a que horas era a partida, pois quando ele lhe disse ela não deu muita importância, estava virada em lágrimas e desesperos. As pessoas na rua lhe olhavam de uma forma meio estranha, afinal, ela estava mesmo estranha. Ela chorava na chuva e corria. Suas lágrimas se confundiam com os pingos de chuva e já nem ela sabia se estava realmente chorando ou era apenas a angústia de que as horas lhe pregassem uma peça. Será que o avião já partira? Será que ele ainda hesita em partir? E a pergunta que mais lhe corria à cabeça: por que cargas d'água deixei ele escapar de meus braços? Entrou completamente fora de si no aeroporto e, ao vê-lo não conseguiu se mover, suas pernas cederam e ela caiu em um choro desesperador. Ele, que já estava pronto para partir, parecia esperar alguma coisa e, ao vê-la só faltou um sorriso brotar em seu rosto. Ao vê-la chorando, foi correndo a seu encontro, a envolveu em seus braços: ''Eu só estava esperando você voltar atrás, mas prometo que nunca mais vou ser orgulhoso. Te amo. Obrigado por lutar por mim.".

Eterna nostalgia

A chuva incessante lhe trazia uma nostalgia enorme. A lembrança dos campos de sua juventude, dos cavalos que muito cuidou, das corridas por entre aquele tapete verde que cobria toda extensão do sítio. Realmente foram bons tempos. Bons tempos em que não era preciso se preocupar com o que o vizinho iria pensar se fizesse muito barulho, porque afinal, ele estava a mais ou menos um quilômetro de distância. Tempos em que pessoas eram menos individualistas, em que ficar até mais tarde na rua não era problema. 
Tinham todo sitio para si, digo na terceira pessoa do plural, pois ela não era só naquela imensidão. Tinha irmãos e irmãs, tinha uma família grande e linda. Gostava da sensação de acordar pela manhã e sentir o cheiro da natureza, de ter a beleza toda do mundo em um só lugar, bem ali, a sua janela.
Hoje, a vista de seu quarto não passava de um aglomerado de prédios enormes, de ruas sem fim, de um enfileirado de carros apressados....