domingo, 16 de setembro de 2012


Quem era ele?
Só porque ria sozinho nas ruas arborizadas. Só porque andava assoviando.
Quem era ele?
Ora, como hei de saber. Talvez nem ele saiba.
Será ele uma história sem fim, uma música que sempre se repete?
Será ele como a dança, que nos leva sutilmente junto à música?
Será ele mágico, artista, trapezista, desenhista? Será ele professor? Será pai? Quem é?
Ele era um livro. Um livro de poemas. Um livro de páginas em branco. Um livro sem capa, sem folhas.
Ele era apreciador de boas músicas, de longas viagens, de filmes, sobretudo de histórias. Não fazia apenas a sua, mas a história de muita gente. Criava personagens que surgiam no dia seguinte. Mas quem era esse homem? Mago, feiticeiro?
"Traz ele pra curar meu filho!"
Não, ele não é curandeiro. Me parece que tem a alma muito grande, só isso. Todos tinham medo de falar com ele, mas nunca deixavam de o cumprimentar. Crianças passavam correndo, jogando bola, mas baixavam a cabeça em sinal de respeito.
- Mas ele não é maluco, meu senhor? Esse homem é maluco!
- Não, minha senhora, este homem é a representação de outros mundos. Esse homem não é gente!
- Oh, não é homem! Não é gente como a gente! Mas o que será essa criatura, meu senhor? O quê? Será que está a procura de alguém? Será que está com fome? Não quer beber água?
- Dizem que ele tem uma casa no meio do mato. Mas ninguém nunca a viu, parece que some quando ele entra nela, vira luz!
- Cruzes! Esse homem é feiticeiro, estou dizendo!
- Disseram-me que ele fala com os animais.
O homem passava lentamente. Sorridente homem que desperta curiosidade de todos. Ele pisca várias vezes, sem deixar de sorrir. Passantes o cumprimentam: "Buenos dias, Zé". O chamavam de Zé, não sabiam o nome da criatura. E ele apenas assentia. Nunca ouviram sua voz, apenas seus escritos. Uma senhora encontrou um bilhete no banco que sempre senta-se todas as manhãs: "Que a magia dos dias lhe traga a esperança necessária para que continues a vida em outro espaço.''. No dia seguinte essa senhora faleceu.

Ainda querem saber quem é este homem. Ainda estão a procura de respostas.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Meu Velho, a saudade chegou.


Hoje, 7 de setembro de 2012,  último desfile como integrante de uma família a qual pertenço há 6 anos. De uma família de sonhadores, de gente forte. Uma família de amigos.

Agora parece tudo tão estranho, tudo tão novo. Agora são sentimentos diferentes, agora vivemos um ano diferente. O último. O último desfile. O terceiro ano. O terceirão do centenário.
Gosto dessa sensação estranha que me aperta o peito e traz uma certa aflição, um certo receio e ansiedade também. Gosto dessas sensações estranhas que me fazem suspirar e muitas vezes chorar. A saudade antecipada das coisas é, talvez, aquilo que mais me perturba. Aquele choro que a gente segura pra não desabar a qualquer momento - é quando a gente chora por dentro. Quando a saudade vem à tona. Quando as lembranças tão distantes reaparecem na nossa memória. Quando as músicas que ouvimos nos levam a um lugar de muito tempo atrás, nos levam ao nosso passado.

É quando temos que começar a escrever nossas biografias pra revista do colégio; é quando temos que enviar nossas fotos de criança; quando temos que tirar nossas fotos para os convites, é quando a turma se une - é quanto tudo começa a fazer sentido, é quando a gente nota que está quase no fim. Setembro já chegou e logo a nossa formatura também chegará. A sensação de que tudo vai terminar de repente, é o que mais assusta. A sensação de que aquela rotina no Colégio Militar de Porto Alegre acabará numa simples virada de ano; num simples fim de ano letivo. Fim esse que ora queremos que chegue depressa, ora que nunca chegue. Fim que na verdade é apenas um começo para outra história, para outras pessoas, para novas saudades antecipadas.

Há cem anos que as arcadas do Velho Casarão guardam lágrimas e sorrisos. Cem anos de saudades.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012